Neste separador poderás encontrar relatos de antigos estudantes da ESEL.
Bem... antigos, não muito antigos, digamos... uns "antigos recentes" (!?)
Digamos antigos estudantes que terminaram a sua formação inicial há pouco tempo... sentimos curiosidade em procurá-los para saber o que estão a fazer neste momento... que recordações mantêm da nossa escola...que diferenças sentem entre ser estudante e ser enfermeiro... como tem sido a relação com a profissão que abraçaram... e que mensagem te deixam a ti.
Que me deixou de mais "especial" o meu curso? Como foi procurar ativamente um contexto de trabalho? Que obstáculos encontrei e como os ultrapassei na adaptação ao mundo do trabalho?
São questões como estas (e outras) que poderás ver respondidas pelos nossos alumni mais recentes!
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Catarina Tubal Finalista 2018/19 23 anos Enfermeira no Instituto Português de Oncologia de Lisboa (IPO). “Tive momentos (no último estágio) em que duvidei de mim, quis sair sem explicar porquê, mas a gestão entre o trabalho pessoal (...), a confiança da professora orientadora no meu percurso, as catarses mais ferventes após cada turno com amigas e o reforço sobre o meu propósito…valeram-me a finalização do curso com sucesso”. |
- Qual a representação social da ESEL que percecionaste quando integraste a atividade profissional?
- Nem sempre a ESEL era bem vista ao lado de outras concorrentes, por não colocar os estudantes na prática hospitalar logo nos primeiros 2 anos. Contudo, também ouvi testemunhos de profissionais que enalteceram o equilíbrio de aprendizagem e brio profissional dos eselianos.
Nalgum ponto, que é o final acredito que todos nos cruzamos. Desejava ter tido uma experiência mais precoce de estágio, mas adorei fazer o percurso tal como surgiu para mim. De um modo geral e por tudo o que fui escutando, aprendi a confiar na preparação que a ESEL me deu. - Sempre quiseste ser Enfermeira? Ou, se tiveste dúvidas, o que fizeste na altura?
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Enfermagem não foi sempre o que desejei escolher. Nutria alguma curiosidade pela profissão, mas vivia amedrontada pelo que o campo da saúde me pudesse revelar sobre a minha própria saúde. A ideia surgiu no 11º ano a par de psicologia e envolvida na perda significativa da minha avó. Na altura, sabia apenas que queria estar perto de todos os que se sentissem mais fragilizados e dar o meu apoio. No dia da candidatura escolhi de esguelha, entre o receio e o entusiasmo… enfermagem. Hoje é a profissão que me traz a realização máxima que julguei nunca alcançar.
Um percurso académico torna-se valioso quando o realizamos com tudo aquilo que somos naquele momento. Desviarmo-nos dele também pode fazer parte, nem que seja para nos relembrar por que estamos ali e o que queremos fazer com isso. Aprendi a confiar que, em qualquer lugar, haverá alguém que, se me sentir descrente, me irá mostrar que ainda existem “mais flores no meu jardim”. Essa pessoa posso ser eu, pode ser a senhora das limpezas que prepara o terreno para poder trabalhar, um doente, um familiar, um colega de trabalho ou um segurança…
Eu estou aqui e ter duvidado do meu percurso, também me levou a finalizá-lo!Qual foi a situação em contexto de estágio que tiveste mais dificuldade em superar e que estratégias e recursos usaste na altura?
O maior desafio de todos foi a escolha e a própria vivência do estágio final, que acabei por realizar em contexto de urgência. Tive momentos em que duvidei de mim, quis sair sem explicar porquê, mas a gestão entre o trabalho pessoal que tinha feito e que ainda continuava a fazer, a confiança da professora orientadora no meu percurso, as catarses mais ferventes após cada turno com amigas e o reforço sobre o meu propósito…valeram-me a finalização do curso com sucesso. Deste último estágio trouxe comigo aquilo que não queria ser enquanto enfermeira, a defender-me e a confiar na minha palavra, a realizar aquilo que me fizesse sentido, a ter compaixão pela vivência de cada profissional e a gerir os conflitos que, em qualquer lugar vão surgir, mas também, em determinado momento, vão ser ultrapassados.
- Viveste alguma situação mais gratificante em contexto de estágio que te fez sentir que a Enfermagem era o teu caminho?
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Em contexto clínico tive experiências muito positivas que foram também deitando por terra alguns discursos desmotivantes de enfermeiros descrentes da sua profissão. Escutar: “olha que ainda vais a tempo de desistir de enfermagem, isto não é vida…”. deixava-me ainda com mais vontade de fazer o contrário e manter-me lá… cheia de medo, mas lá. Os enfermeiros que mais guardo com carinho foram aqueles que me ensinaram a olhar por mim e a perceber que “numa passagem de turno, estar sentado é um direito igual ao de todos os presentes”.
Das experiências mais positivas guardei o cuidar com o coração, com tempo e disponibilidade, a respeitar a vontade das pessoas de quem cuido e com quem trabalho, a ser parceira e a não ficar perdida na competição do pódio, a trabalhar em equipa, a saber pedir ajuda quando não consigo fazer um procedimento e… a parar para beber água porque também tenho direito de estar no meu melhor quando cuido.Qual a melhor recordação que tens da vida académica na escola e qual o maior desafio que tiveste que superar?
Já em contexto profissional e entre o núcleo de amigos mais próximos recordo a ESEL como um lugar muito especial, um lugar de encontros e desencontros, por onde o meu caminho foi realizado. Por vezes, tive necessidade de reformular o(s) significado(s) que atribuía a alguns acontecimentos de acordo com a realidade que havia sido mascarada pelo medo, insegurança e expetativas que ia edificando à volta da perfeição (que aprendi que não existe!). Um livro que pautou o meu percurso e ao qual tive necessidade de recorrer intitula-se “A coragem de ser imperfeito” e é da autoria de Brené Brown.
A maior descoberta e também a mais longa daquele que seria o meu propósito mais profundo ainda como estudante de enfermagem começou quando me sentia frequentemente desconfortável e angustiada no 1º ano de faculdade. Hoje, fico muito feliz pela coragem que me levou a expor gradualmente o que sentia à profissional que tinha a certeza que me iria acolher no GAPE, a psicóloga clínica e também professora Helga Pedro. Outro lugar que guardo com carinho é o posto de vigília, de grande humor e atenção onde se encontra o Sr. Jorge, um dos seguranças da faculdade que será sempre o rosto de entrada e saída da ESEL. - Qual consideras ter sido o critério que mais foi tido em conta para teres sido admitido no teu local de trabalho?
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Numa entrevista de emprego a metodologia de ensino não tem o peso que senti inicialmente. A nota final também não me deu passaporte secreto para entrar no primeiro trabalho. No meu contexto quiseram antes saber mais sobre mim, sobre as minhas experiências de estágio e o que também fazia nos tempos livres. No local a que me candidatei senti que contou muito a própria necessidade da instituição de recrutar enfermeiros…mas no final lembro-me que disse para mim “obrigada por me cederem o lugar de ficar”.
Terminei o curso de enfermagem a 26/7/2019 e, precisamente um mês depois, tive a possibilidade de escolher o meu primeiro emprego. Sou enfermeira no serviço de internamento de Cirurgia Cabeça e Pescoço, Otorrinolaringologia e Endocrinologia, no Instituto Português de Oncologia de Lisboa (IPO), aquele que ainda hoje mantenho com grande estima e gratidão.Agora que és Enfermeira qual é o teu maior propósito?
Pela experiência, pelo que fui dando, mas também recebendo acredito que “nada acontece por acaso” e agora é um dos meus lemas de bolso, que surge se estiver em silêncio, em contexto de trabalho numa situação inesperada e desconhecida, mas também entre sorrisos e encontros profundamente significativos que me dão oportunidade de agradecer a confiança que em cada momento depositam em mim.
O meu maior propósito é não deixar que alguém se sinta sozinho. A doença pode assustar, mas a solidão na doença é um sofrimento demasiado profundo que ninguém tem que suportar sozinho. Todos fazemos parte de um percurso e uma mão que aperta, também recebe aperto! A enfermagem é um aconchego mútuo que é difícil expressar.
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